Split Payment no Brasil e a Reforma Tributária

FORMMA CONTÁBIL • 2 de outubro de 2025

Desafios Práticos e Efeitos nos Fluxos de Caixa Empresariais

A Reforma Tributária em curso no Brasil trouxe uma série de inovações para simplificar a cobrança e aumentar a eficiência na arrecadação de tributos. Entre os mecanismos previstos, destaca-se o Split Payment (ou pagamento fracionado), uma forma de recolhimento em que o imposto devido não passa mais pelo caixa da empresa, sendo direcionado automaticamente ao Fisco no momento do pagamento da operação.

Esse modelo, já adotado em países da União Europeia e em outras jurisdições, busca combater a evasão fiscal e garantir maior segurança arrecadatória. No entanto, sua implementação no Brasil levanta importantes reflexões sobre os impactos na gestão financeira, contábil e operacional das empresas.


O que é o Split Payment?

O Split Payment é um mecanismo em que, ao realizar um pagamento a um fornecedor, o valor da nota fiscal é dividido automaticamente em duas partes:

  • Valor líquido da operação, que segue para a conta do fornecedor;
  • Valor do tributo incidente, que é destinado diretamente ao ente arrecadador (União, Estados ou Municípios, conforme o tributo).

Na prática, o comprador paga uma única vez, mas o sistema bancário e fiscal faz a separação e o envio imediato da parcela correspondente ao imposto.


Objetivos da Medida

  1. Reduzir inadimplência tributária: o Fisco recebe a receita na origem da transação, eliminando riscos de sonegação ou de não recolhimento.
  2. Simplificar a fiscalização: a arrecadação se torna mais transparente, com rastreabilidade automática.
  3. Dar maior previsibilidade à receita pública: governos passam a contar com fluxo contínuo e imediato de arrecadação.


Desafios Práticos para as Empresas

Apesar dos objetivos positivos, a implementação do Split Payment traz desafios significativos para as empresas brasileiras:


1. Efeitos nos Fluxos de Caixa

  • Hoje, muitas empresas utilizam o período entre o recebimento da venda e o pagamento do tributo como capital de giro temporário.
  • Com o split payment, essa “janela de fôlego” desaparece, impactando diretamente a liquidez e o caixa.
  • Empresas com margens apertadas, especialmente no varejo e em serviços, sentirão maior pressão para rever sua estrutura de financiamento.


2. Impactos na Gestão Financeira

  • A redução da circulação do “caixa tributário” exigirá novas estratégias de gestão de capital de giro.
  • Empresas precisarão antecipar negociações com bancos, fornecedores e clientes para compensar a perda dessa flexibilidade.
  • A inadimplência de clientes terá efeito ainda mais crítico, pois o imposto será recolhido mesmo que a empresa não receba a totalidade do valor da venda.


3. Complexidade Contábil e de Sistemas

  • Sistemas ERP e de gestão precisarão ser adaptados para registrar corretamente os fluxos separados de tributo e receita líquida.
  • A conciliação bancária terá de considerar pagamentos “fracionados”, aumentando a necessidade de integração contábil-financeira.
  • Escritórios de contabilidade terão papel estratégico na adaptação e no monitoramento do cumprimento.


4. Setores mais impactados

  • Varejo: operações de alto volume e margens baixas tornam a gestão do fluxo de caixa ainda mais delicada.
  • Serviços: risco de inadimplência do cliente, já que o imposto será recolhido mesmo sem pagamento integral.
  • Pequenas e médias empresas: menor capacidade de negociação com bancos pode acentuar a dependência de crédito.


Possíveis Benefícios para as Empresas

Apesar dos desafios, o Split Payment também pode gerar ganhos indiretos:

  • Redução de passivos ocultos e contingências fiscais, já que os tributos são recolhidos automaticamente.
  • Maior confiabilidade e transparência nas relações comerciais, pois elimina riscos de autuações decorrentes de inadimplência tributária.
  • Estímulo à modernização de sistemas de gestão e maior integração com plataformas digitais de arrecadação.


Como as Empresas Devem se Preparar

  1. Revisar o planejamento financeiro: simular cenários de fluxo de caixa considerando a perda do “capital tributário”.
  2. Negociar com fornecedores e clientes: buscar prazos mais equilibrados e condições que reduzam o impacto da liquidez.
  3. Atualizar sistemas contábeis e de gestão: integrar ERP e plataformas bancárias para suportar a nova realidade.
  4. Capacitar a equipe: preparar times de contabilidade, fiscal e tesouraria para operar no novo modelo.
  5. Explorar linhas de crédito e instrumentos financeiros: ajustar políticas de capital de giro, já que a necessidade por financiamento pode aumentar.


Considerações Adicionais

A introdução do Split Payment no Brasil representa uma mudança estrutural na relação entre Fisco e empresas. Embora tenha potencial de aumentar a eficiência da arrecadação e reduzir riscos de passivos fiscais, também traz desafios expressivos de liquidez, planejamento e gestão contábil.

As empresas que saírem na frente, adaptando seus processos, sistemas e estratégias de caixa, estarão melhor preparadas para enfrentar esse novo cenário. Assim, o pagamento fracionado deve ser visto não apenas como um mecanismo de controle fiscal, mas como um catalisador de mudanças na gestão financeira corporativa.



Para sua reflexão !

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